Tuesday 24 June 2008

Estórias com ele.. (1)


Aproximei-me em passos vagarosos dele, estava sentado à secretária na sua biblioteca, a pensar ou coisa assim.
Ao fundo rente ao tecto, havia uma rasgada tira de janela por onde o pai espreitava os poentes e nos chamava para com ele, os vermos. Estava lá essa janela, porque ele a tinha desenhado para só isso.
Estendi-lhe uma pequena encadernação de capa verde.
A primeira folha estava guardada para ele escrever-me uma coisa com que eu pudesse iluminar o resto da minha vida, queria eu. Não adivinharia o que lá poria ele, só sabia que seria especial, que ficaria diferente de todas as outras pequenas rectangulares páginas já escritas por colegas, professores e amigos.
Acho que por volta dos dez anos, era costume ter-se um livrinho destes, era como um acrescento à existência, sempre que o abriamos nos viamos como pequenos tesouros aos olhos dos demais, para além de que ali ficavam as caligrafias e marcas das nossas pessoas importantes.
Agarrou no livrito com as suas mãos parecidas com as minhas agora (?), olhou-me com aqueles castanhos olhos doces quase de criança e escreveu: "Se eu pudesse agarrar uma estrela no céu, não seria mais feliz do que ter a filha que Deus me deu."
E como as estrelas são para mim tão grandiosas, fiquei naquela altura sem perceber como podia o pai dizer-me uma coisa daquelas.

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publicado por G. Ludovice in: 2+2=5

2 comments:

didium said...

Que atitude grandiosa, a do teu pai! Como te percebo! É destas "pequenas" lembranças que os vamos recordando, para sempre!
Bjo

didium said...

Lembro-me perfeitamente da janela, mostrou-ma há muitos anos...