Friday 19 March 2010

Ao meu Pai..

Estou ainda em longa viagem, Pai.
Há dois anos que não deixo os meus olhos concentrarem-se no teu sorriso e não te encontro no sofá de baloiço na varanda, a esticares os teus brilhos para o horizonte verde nem me deparo com esses sonhos todos nas abas dos teus gestos, neles pendurados como animais teimosos enquanto sobre as teclas do piano, os teus braços e mãos valsam.
Pois é Pai, isto das viagens, é todo um mundo.
Apesar de ter tempo, é-me penoso usar algum dos meios de comunicação acessíveis a qualquer um, para apenas ouvir a tua voz. Não o tenho feito, estar em viagem não é fácil como o sabes.
Sim, tenho tido momentos de mão no queixo em algum sítio, e lá andas tu como em casa pelos meus pensamentos a espreitar aqui e ali nessa curiosidade de mais velho, que sabe que o mundo está sempre a mudar. Por vezes, apareces nalgum sonho a meio das minhas noites andantes cheias de desluas ou de luminosidades tão absolutas Pai, que é logo em ti que penso para naquele momento vermos o mesmo.
Viajo há dois anos Pai, e como te disse não é por falta de minutos e horas, que tenho adiado um postal que fosse, mas é como se me quisesse convencer que o facto de poder pensar em alguém é já beijá-lo e levar-lhe todo o meu último mundo; deve parecer-te um pensamento meio estranho, mas por sinal é até de grande utilidade e anima-me nesta viagem que se estende faz hoje, precisamente dois anos.
Hás-de perdoar, este meu silencio. Talvez tenhas já sentido o beijo.
Sim Pai, não foste tu que morreste... sou eu que ando por fora faz tempo.
G.ludovice

1 comment:

Susana Ludovice said...

Ao meu querido vovô!!!
Papá a dobrar qlq um!!
Obrigada por seres quem és!!
Estamos juntos!!
neta susana